quinta-feira, 31 de maio de 2012

Sobre "O Trombone e o Fuzil"


DEPOIMENTO DE LUIZ GONZAGA DE SOUZA LIMA


(ele nos enviou e eu tomei a liberdade de divulgar aqui. É preciso dizer que o Luiz Gonzaga tem um livro recentemente publicado que é fundamental que seja lido: "A Refundação do Brasil"
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Prezada Pita, bom dia.
    Passam os dias mas a peça que vocês apresentaram continua na minha lembrança. Meditando esta manhã resolvi escrever brevemente para dizer obrigado. Foi emocionante ver, mais de quarenta anos depois, vocês tratarem da luta que a juventude brasileira combateu como uma coisa de hoje, como um passado que é vivo, que impregna o presente como um elemento perturbador que solicita ser incorporado nas almas de todos, que solicita ser metabolizado politica e culturalmente pela nossa sociedade, e, sobretudo pela nossa juventude. Foi gratificante ouvir nomes de companheiros, e através deles todos os outros,  serem lembrados. Nenhum dos que se foram nem dos que ficaram combateram aquela batalha pela liberdade e pela justiça para ser um dia lembrado. Combateram porque entenderam ser seu dever com o nosso povo, com a história e com a humanidade inteira. Nos tocou um confronto com um regime opressor que se impôs à força, diante dos nossos olhos, ferindo nossas almas e  machucando nossos corações com a brutalidade, aviltando e reprimindo as consciências e as inteligências de todos os brasileiros. A sociedade não podia aceitar. Não podia deixar barato. E não deixou. Acho que estas lutas se inserem na grande tradição de lutas do povo brasileiro em busca de liberdades, de democracia, de autonomia como povo, como cultura, como sociedade e como estado. O teatro de vocês é uma aula de história política e um convite à reflexão sobre nosso país. Acho que devia ser matéria obrigatória nas escolas secundárias da cidade, na cadeira de cidadania. Acho que devia ser apresentada em todas as escolas.
Achei também muito interessante também o modo como vocês incorporaram Petrópolis no roteiro da peça.  Com simplicidade e clareza, estabeleceram os vínculos reais com a repressão. É um diálogo da história com a sociedade de hoje. Com a sociedade real, com a sociedade que constitui o público de vocês, com a sociedade na qual estamos mergulhados. É um diálogo vivo, entre vivos, e fundamental. Mas, e é sempre bom lembrar, que entre esta cidade e as lutas sociais brasileiras existem outros  vínculos, tanto nas antigas lutas que vocês lembraram, quanto porque foi aqui, no Quitandinha, o mais importante congresso da UNE até o golpe ( 61 ? 62?). Foi o congresso que marcou a opção definitiva do movimento universitário brasileiro com o programa de transformações radicais da sociedade brasileira. A Une saiu de Petrópolis como um ator importante na política brasileira daquela época. E foi dos movimentos que davam suporte político ao papel da UNE que surgirão as organizações revolucionárias que combateram a ditadura.
Eu também achei  genial o texto  criar, no âmbito da família, talvez o único possível, o  vínculo entre a juventude petropolitana de hoje e os fatos daquela época. Parabéns e Parabéns. Para você, seu companheiro e para os dois jovens atores. Mas sobretudo, querida amiga, muito obrigado. Obrigado pela emoção que me proporcionou e obrigado pela contribuição que estão dando com este trabalho à uma vida cidadã e consciente.
Com um abraço forte e fraterno de
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Luiz Gonzaga

Um comentário:

jaqueline disse...

A peça também foi marcante pra mim.
Só tenho 23 anos,e embora não tivesse nascido naquela época sempre ouvia falar nas reportagens e tal. Mas ver a peça foi outra coisa. Não tem como você ver e não se comover com os fatos apresentados. É uma vergonha que ainda hoje essas pessoas que torturavam e matavam não tenham recebido nenhuma punição.
Quero deixar aqui os parabéns para Pitta e para o Sylvio pela peça, ah também não posso me esquecer dos outros atores. Vocês foram maravilhosos como sempre.

Lê...Minski - leitura dramatizada